RESISTÊNCIA DE PLANTAS A INSETOS
INTRODUÇÃO
- Método ideal: as pragas podem ser mantidas abaixo do nível de dano econômico sem causar distúrbios ou poluição do ecossistema e sem ônus adicional ao produtor; técnica compatível com outros métodos de controle;
- Caso clássico (século XIX): controle da filoxera da videira – enxertia de variedades européias sobre porta-enxertos americanos resistentes à praga;
- Nas últimas décadas: intensificação dos trabalhos de melhoramento a ponto de permitir o uso racional de variedades resistentes no controle de pragas;
CONCEITOS – RESISTÊNCIA
Painter (1951) “A soma relativa de qualidades hereditárias possuídas pela planta, as quais influenciam o resultado do grau de dano que o inseto causa”.
“Capacidade que possuem certas plantas de alcançarem maior produção de boa qualidade, que outras variedades em geral, em igualdade de condições”.
(Rossetto, 1973) “Planta resistente é aquela que devido à sua constituição genotípica é menos danificada que uma outra, em igualdade de condições”.
A resistência é relativa – parâmetro comparativo
A resistência é hereditária – progênies comportamento similar
Repetibilidade – característica mantida
Determinadas condições
Espécies de insetos – resistentes a uma espécie
Resistência múltipla – mais de uma espécie
Resistência intrínseca e extrínseca – direta ou indireta (inimigos naturais)
Planta danificada x planta atacada
A resistência pode ocorrer tanto nos materiais cultivados como nos exóticos ou não cultivados.
GRAUS DE RESISTÊNCIA
GRAUS DE RESISTÊNCIA: níveis variáveis de respostas
Imunidade: planta que não sofre nenhum dano, sob qualquer condição;
Alta resistência: planta que sofre pouco dano em determinadas condições;
Resistência moderada: sofre um dano menor que o dano médio causado nas variedades em geral;
Suscetibilidade: sofre dano semelhante ao dano médio sofrido pelas variedades em geral;
Alta suscetibilidade: sofre um dano bem maior que a média de dano causado aos materiais genéticos cultivados;
PSEUDO-RESISTÊNCIA
Assicronia fenológica = evasão hospedeira
Fase de maior suscetibilidade ao ataque do inseto quando a densidade populacional do mesmo é baixa. Ex. variedades de ciclo mais curto, ou antecipação do plantio (método cultural);
Resistência induzida:
Manifestação temporária da resistência: a planta se revela menos adequada ao inseto – uma condição ou interação com condições ambientais (irrigação, fertilizantes, etc.);
Efeito adverso da adubação nitrogenada sobre Spodoptera frugiperda em Pennisetum typhoides.
Escape: a planta não é infestada ou é pouco danificada, devido a um simples acaso. Quando não se constata a repetibilidade.
TIPOS DE RESISTÊNCIA
NÃO-PREFERÊNCIA = Alimentação, oviposição ou abrigo.
ANTIBIOSE = Efeito adverso da planta sobre o inseto.
TOLERÂNCIA = Regeneração ou capacidade de suportar o ataque do inseto.
NÃO-PREFERÊNCIA OU ANTIBIOSE
A planta é menos utilizada pelo inseto que outra em desigualdade de condições, para alimentação, oviposição ou abrigo:
Comportamental do inseto em relação à planta.
Número de posturas, de ovos e de ovos/postura, colocados por Diatraea saccharalis em variedades de arroz (Martins et al. 1977);
Variedade | Postura | Ovos | Ovos/postura |
IAC 9 | 2,57a | 12,07a | 3,45a |
Bluebelle | 2,23b | 5,87b | 2,54a |
TKM6 | 1,64b | 5,82b | 3,71a |
Chiang an Tsao Pai Ku | 1,51b | 5,25b | 3,36a |
Percentagem média de área foliar danificada por Cerotoma arcuata e Diabrotica speciosa, em variedades de soja (Adaptada de Rossetto et al. 1981);
Variedade | % de área foliar consumida | |
C. arcuata | D. speciosa | |
Paraná | 19,59a | 47,91a |
Santa Rosa | 22,55a | 37,01ab |
PI 171451 | 15,06a | 13,71bc |
PI 229358 | 17,65a | 18,45bc |
PI 227687 | 12,76a | 6,81c |
Estímulos da planta que atuam no comportamento do inseto (Lara, 1979).
Estímulo | Efeitos no comportamento |
Cairomônio | Favorável ao inseto |
Atraente | Orienta em direção à planta |
Arrestante | Pára ou torna vagaroso o movimento. |
Excitante | Induz á picada inicial, mordida, penetração ou oviposição. |
Estimulante alimentação | Promove a continuidade da alimentação. |
Alomônio | Adverso ao inseto |
Deterrente | Orienta em direção oposta a planta. |
Repelente | Inicia ou acelera seu movimento. |
Estimulante locomotor | Inibe a picada, mordida ou penetração inicial. |
Sepressante | Impede a manutenção da alimentação ou oviposição. |
ANTIBIOSE
O inseto se alimenta normalmente da planta e esta exerce um efeito adverso sobre a biologia do mesmo: mortalidade das formas jovens, mortalidade na transformação para adulto, redução do tamanho e peso dos indivíduos, redução da fecundidade, alteração na proporção sexual, alteração no tempo de cida.
Ciclo de vida (dias) de Bemisia tabaci em genótipos de feijoeiro.
Genótipo | Período de incubação | Período ninfal | Período ovo - adulto |
Bolinha | 12,50a | 24,00a | 36,50a |
Bat 85 | 11,75a | 24,00a | 35,75a |
Carioca | 11,50a | 18,25a | 29,75b |
Bat 363 | 8,50b | 19,50a | 28,00b |
Reprodução e deposição de honeydew de schizaphis graminum em variedade de sorgo
Variedades | Honeydew (gotas) | ||
Ninfas | Adultos | Ninfas / Adultos / Dia | |
Tx 7000 | 24,9a | 21,1a | 3,7ab |
Tx 2536 | 24,2ab | 18,4ab | 4,2ª |
PI 264453 | 19,2b | 16,0b | 3,1bc |
AS 7536-1 | 12,9c | 9,2c | 2,4cd |
IS 809 | 10,9c | 8,2c | 1,4e |
KS 30 | 10,7c | 7,4c | 1,9de |
TOLERÂNCIA
Planta tolerante: sofre poucos danos em relação às outras, sob um mesmo nível de infestação de determinada espécie, sem afetar o seu comportamento ou biologia.
Capacidade de suportar o ataque: regeneração dos tecidos destruídos, emissão de novos ramos ou perfilhos, etc.
Depende da planta e não atua sobre o inseto
Vantagem: reduz a possibilidade de raças fisiológicas do inseto.
Desvantagem: não afeta a população do inseto.
Resistência de cultivares de moranguinho à Tetranychus urticea
Produção de Frutos | |||
Cultivar | % de redução peso | % de redução número frutos | Média de ácaros |
Florida Belle | 20,1b | 14,8c | 290,0 |
Sequóia | 11,2b | 16,6bc | 255,9 |
Tioga | 18,3b | 25,3b | 308,7 |
Siletz | 52,2a | 53,4a | 243,3 |
CAUSAS DA RESISTÊNCIA
Físicas – radiações (comprimentos de onda
Químicas
- Substâncias que atuam no comportamento do inseto – substâncias secundárias (compostos nitrogenados, terpenóides e fenólicos) – repelente olfativo ou gustativo, deterrente, ausência de atraente e estimulante, etc.
- Substâncias que atuam no metabolismo do inseto – biologia, desenvolvimento e reprodução (Nicotina e piretro);
- Impropriedade nutricionais – ausência ou deficiência de nutrientes essenciais, desbalanço.
Morfológicas
- Tipos de epiderme – textura e consistência. Ex: cutícula espessas, dureza, teores de sílica e lignina, pilosidade.
- Dimensão das estruturas – comprimento, largura e altura das partes das plantas. Ex: comprimento da palha do milho (H. Zea).
- Disposição das estruturas – compreensão das palhas no milho e compactação das folhas da base em cebola.
Outras
- Comportamento do inseto – planta que está mais adaptado
- Fisiologia da planta – hormônios de crescimento (auxinas).
FATORES QUE INFLUENCIAM A MANIFESTAÇÃO DA RESISTÊNCIA
Fatores da planta – idade, parte infestada, infestação anterior por doenças ou outras pragas, enxertia;
Fatores do inseto – fase idade, espécie, raça e biótipo, condições pré-imaginal, tamanho da população;
Fatores ambientais
- Climáticos e Edáficos – umidade, temperatura, nutrientes e sais minerais;
- Infestação de outros insetos;
- Predação e parasitismo
- Época de plantio;
- Densidade de plantio
- Tamanho das parcelas
- Plantas adjacentes
- Cultura precedentes.
EXEMPLOS DE RESISTÊNCIAS
A resistência do feijão aos carunchos Zabrotes subfasciatus é do tipo antibiose, e atribuída à proteína arcelina.
[Schoonhven et al. (1983), Cardona et al. (1989)]
(Barbosa et al., 2000)
Genótipos de Caupi (Vignia unguiculata) tem apresentado resistência ao caruncho (Callosobruchus maculatus) do tipo antibiose ou não preferência para oviposição.
(Lima et. al., 2001)
Resistência de diferentes genótipos de algodão (Gossypium hirsutum) a Alabama argillacea é do tipo antibiose e/ou não preferência para alimentação.
(Santos & Boiça Júnior, 2001)
O IAC vem desenvolvendo linhagens de milho com genes para resistência a insetos produção de fitoalexinas (alcalóides, resinas, ácidos orgânicos e glucosídeos).
Quando o gene resistente foi incorporado a variedades de milho suscetível este adquiriu resistência a alguns insetos mastigadores como a lagarta-do-cartucho (S. frugiperda).
(Miranda & Miranda, 1993)
Resistência de variedade de tomate (L. esculetum) a T. absoluta tem sido atribuída aos aleloquímicos 2-tridecanona e 2-undecanona, presentes nos tricomas foliares tipo VI.
[Giustolin e Vendramim (1996), Maluf et al. (1997)]
Número médio de adultos do caruncho (Z. subfasciatus) emergidos em sementes de duas cultivares e de quatro linhagens de feijão no período de 60, 75, 120 e 150 dias de armazenamento.
Adultos emergidos (N°) Armazenamento (Dias) | |||||
Cultivar | 45 | 60 | 75 | 120 | 150 |
Goiano precoce | 11,5 | 12,0 | 25,0 | 57,3 | 58,3 |
Porrillo 70 | 6,8 | 16,0 | 10,3 | 42,8 | 42,7 |
Arcelina 3 | 1,2 | 4,5 | 18,5 | 45,5 | 72,2 |
Arcelina 4 | 1,54 | 7,7 | 13,7 | 6,3 | 28,3 |
Arcelina 2 | 0,3 | 0,5 | 0,8 | 1,0 | 5,3 |
Arcelina 1 | 0,0 | 0,3 | 0,3 | 0,0 | 0,0 |
Peso e viabilidade da fase pupal, razão sexual e deformação de adultos (%) de S. frugiperda provenientes de lagartas alimentadas com folhas de diferentes genótipos de milho.
Genótipo | Peso (mg) | Viabilidade (%) | Razão Sexual | % de deformação |
LAC103N | 239,2 | 91,3 | 0,51 | 10,3 |
Mp705 | 225,6 | 97,1 | 0,56 | 13,4 |
Mp496 | 219,4 | 97,2 | 0,44 | 6,2 |
MP706 | 212,0 | 100,0 | 0,35 | 24,6 |
IAC701N | 211,5 | 94,4 | 0,38 | 9,5 |
ZC | 210,0 | 93,3 | 0,46 | 11,6 |
IAC7777 | 206,9 | 91,4 | 0,50 | 13,5 |
IAC701 BPI | 204,1 | 100,0 | 0,62 | 30,6 |
IAC103 BPI | 196,8 | 93,7 | 0,68 | 10,7 |
ZC – Zapalote Chico
VANTAGENS NA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS RESISTENTES
Facilidade utilização – não necessita de conhecimento adicional do agricultor;
Custo – não tem custo, pois dispensa o controle;
Harmonia com o ambiente – não há riscos para insetos benéficos e contaminação do ambiente;
Persistência – tem efeito permanente;
Redução da infestação em variedades susceptíveis e em outras culturas – redução na população da praga;
Não interferência nas demais práticas culturais – não tem problemas de resíduos;
Compatibilidade – com outros métodos de controle.
LIMITAÇÕES NA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS RESISTENTES
Tempo para obtenção da variedade resistente – tempo longo, em média 7 anos;
Limitações genéticas da planta - diversidade genética – dentre as variedades e linhagens – fontes de resistência;
Ocorrência de biótipos – pode limitar o uso – uso de resistência poligênica e melhoramento;
Características de resistências conflitantes – resistência a um inseto e susceptível a outros;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A resistência de plantas é uma técnica muito interessante no controle de insetos.
Caso de pragas muito nocivas;
Cultura de ciclo curto;
Culturas de baixa renda que não compensa o controle químico;
Não provoca alterações prejudiciais no ecossistema;
Se enquadra na filosofia do Manejo Integrado de Pragas.
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