sexta-feira, 10 de outubro de 2008

RESISTÊNCIA DE PLANTAS A INSETOS

RESISTÊNCIA DE PLANTAS A INSETOS

INTRODUÇÃO

- Método ideal: as pragas podem ser mantidas abaixo do nível de dano econômico sem causar distúrbios ou poluição do ecossistema e sem ônus adicional ao produtor; técnica compatível com outros métodos de controle;

- Caso clássico (século XIX): controle da filoxera da videira – enxertia de variedades européias sobre porta-enxertos americanos resistentes à praga;

- Nas últimas décadas: intensificação dos trabalhos de melhoramento a ponto de permitir o uso racional de variedades resistentes no controle de pragas;

CONCEITOS – RESISTÊNCIA

Painter (1951) “A soma relativa de qualidades hereditárias possuídas pela planta, as quais influenciam o resultado do grau de dano que o inseto causa”.

“Capacidade que possuem certas plantas de alcançarem maior produção de boa qualidade, que outras variedades em geral, em igualdade de condições”.

(Rossetto, 1973) “Planta resistente é aquela que devido à sua constituição genotípica é menos danificada que uma outra, em igualdade de condições”.

A resistência é relativa – parâmetro comparativo

A resistência é hereditária – progênies comportamento similar

Repetibilidade – característica mantida

Determinadas condições

Espécies de insetos – resistentes a uma espécie

Resistência múltipla – mais de uma espécie

Resistência intrínseca e extrínseca – direta ou indireta (inimigos naturais)

Planta danificada x planta atacada

A resistência pode ocorrer tanto nos materiais cultivados como nos exóticos ou não cultivados.

GRAUS DE RESISTÊNCIA

GRAUS DE RESISTÊNCIA: níveis variáveis de respostas

Imunidade: planta que não sofre nenhum dano, sob qualquer condição;

Alta resistência: planta que sofre pouco dano em determinadas condições;

Resistência moderada: sofre um dano menor que o dano médio causado nas variedades em geral;

Suscetibilidade: sofre dano semelhante ao dano médio sofrido pelas variedades em geral;

Alta suscetibilidade: sofre um dano bem maior que a média de dano causado aos materiais genéticos cultivados;

PSEUDO-RESISTÊNCIA

Assicronia fenológica = evasão hospedeira

Fase de maior suscetibilidade ao ataque do inseto quando a densidade populacional do mesmo é baixa. Ex. variedades de ciclo mais curto, ou antecipação do plantio (método cultural);

Resistência induzida:

Manifestação temporária da resistência: a planta se revela menos adequada ao inseto – uma condição ou interação com condições ambientais (irrigação, fertilizantes, etc.);

Efeito adverso da adubação nitrogenada sobre Spodoptera frugiperda em Pennisetum typhoides.

Escape: a planta não é infestada ou é pouco danificada, devido a um simples acaso. Quando não se constata a repetibilidade.

TIPOS DE RESISTÊNCIA

NÃO-PREFERÊNCIA = Alimentação, oviposição ou abrigo.

ANTIBIOSE = Efeito adverso da planta sobre o inseto.

TOLERÂNCIA = Regeneração ou capacidade de suportar o ataque do inseto.

NÃO-PREFERÊNCIA OU ANTIBIOSE

A planta é menos utilizada pelo inseto que outra em desigualdade de condições, para alimentação, oviposição ou abrigo:

Comportamental do inseto em relação à planta.

Número de posturas, de ovos e de ovos/postura, colocados por Diatraea saccharalis em variedades de arroz (Martins et al. 1977);

Variedade

Postura

Ovos

Ovos/postura

IAC 9

2,57a

12,07a

3,45a

Bluebelle

2,23b

5,87b

2,54a

TKM6

1,64b

5,82b

3,71a

Chiang an Tsao Pai Ku

1,51b

5,25b

3,36a

Percentagem média de área foliar danificada por Cerotoma arcuata e Diabrotica speciosa, em variedades de soja (Adaptada de Rossetto et al. 1981);

Variedade

% de área foliar consumida

C. arcuata

D. speciosa

Paraná

19,59a

47,91a

Santa Rosa

22,55a

37,01ab

PI 171451

15,06a

13,71bc

PI 229358

17,65a

18,45bc

PI 227687

12,76a

6,81c

Estímulos da planta que atuam no comportamento do inseto (Lara, 1979).

Estímulo

Efeitos no comportamento

Cairomônio

Favorável ao inseto

Atraente

Orienta em direção à planta

Arrestante

Pára ou torna vagaroso o movimento.

Excitante

Induz á picada inicial, mordida, penetração ou oviposição.

Estimulante alimentação

Promove a continuidade da alimentação.

Alomônio

Adverso ao inseto

Deterrente

Orienta em direção oposta a planta.

Repelente

Inicia ou acelera seu movimento.

Estimulante locomotor

Inibe a picada, mordida ou penetração inicial.

Sepressante

Impede a manutenção da alimentação ou oviposição.

ANTIBIOSE

O inseto se alimenta normalmente da planta e esta exerce um efeito adverso sobre a biologia do mesmo: mortalidade das formas jovens, mortalidade na transformação para adulto, redução do tamanho e peso dos indivíduos, redução da fecundidade, alteração na proporção sexual, alteração no tempo de cida.

Ciclo de vida (dias) de Bemisia tabaci em genótipos de feijoeiro.

Genótipo

Período de incubação

Período

ninfal

Período ovo - adulto

Bolinha

12,50a

24,00a

36,50a

Bat 85

11,75a

24,00a

35,75a

Carioca

11,50a

18,25a

29,75b

Bat 363

8,50b

19,50a

28,00b

Reprodução e deposição de honeydew de schizaphis graminum em variedade de sorgo

Variedades

Honeydew (gotas)

Ninfas

Adultos

Ninfas / Adultos / Dia

Tx 7000

24,9a

21,1a

3,7ab

Tx 2536

24,2ab

18,4ab

4,2ª

PI 264453

19,2b

16,0b

3,1bc

AS 7536-1

12,9c

9,2c

2,4cd

IS 809

10,9c

8,2c

1,4e

KS 30

10,7c

7,4c

1,9de

TOLERÂNCIA

Planta tolerante: sofre poucos danos em relação às outras, sob um mesmo nível de infestação de determinada espécie, sem afetar o seu comportamento ou biologia.

Capacidade de suportar o ataque: regeneração dos tecidos destruídos, emissão de novos ramos ou perfilhos, etc.

Depende da planta e não atua sobre o inseto

Vantagem: reduz a possibilidade de raças fisiológicas do inseto.

Desvantagem: não afeta a população do inseto.

Resistência de cultivares de moranguinho à Tetranychus urticea

Produção de Frutos

Cultivar

% de redução peso

% de redução número frutos

Média de ácaros

Florida Belle

20,1b

14,8c

290,0

Sequóia

11,2b

16,6bc

255,9

Tioga

18,3b

25,3b

308,7

Siletz

52,2a

53,4a

243,3

CAUSAS DA RESISTÊNCIA

Físicas – radiações (comprimentos de onda 253 a 700 mμ);

Químicas

- Substâncias que atuam no comportamento do inseto – substâncias secundárias (compostos nitrogenados, terpenóides e fenólicos) – repelente olfativo ou gustativo, deterrente, ausência de atraente e estimulante, etc.

- Substâncias que atuam no metabolismo do inseto – biologia, desenvolvimento e reprodução (Nicotina e piretro);

- Impropriedade nutricionais – ausência ou deficiência de nutrientes essenciais, desbalanço.

Morfológicas

- Tipos de epiderme – textura e consistência. Ex: cutícula espessas, dureza, teores de sílica e lignina, pilosidade.

- Dimensão das estruturas – comprimento, largura e altura das partes das plantas. Ex: comprimento da palha do milho (H. Zea).

- Disposição das estruturas – compreensão das palhas no milho e compactação das folhas da base em cebola.

Outras

- Comportamento do inseto – planta que está mais adaptado

- Fisiologia da planta – hormônios de crescimento (auxinas).

FATORES QUE INFLUENCIAM A MANIFESTAÇÃO DA RESISTÊNCIA

Fatores da planta – idade, parte infestada, infestação anterior por doenças ou outras pragas, enxertia;

Fatores do inseto – fase idade, espécie, raça e biótipo, condições pré-imaginal, tamanho da população;

Fatores ambientais

- Climáticos e Edáficos – umidade, temperatura, nutrientes e sais minerais;

- Infestação de outros insetos;

- Predação e parasitismo

- Época de plantio;

- Densidade de plantio

- Tamanho das parcelas

- Plantas adjacentes

- Cultura precedentes.

EXEMPLOS DE RESISTÊNCIAS

A resistência do feijão aos carunchos Zabrotes subfasciatus é do tipo antibiose, e atribuída à proteína arcelina.

[Schoonhven et al. (1983), Cardona et al. (1989)]

Em genótipos Silvestres de Feijão (P. vulgaris) de origem mexicana, detectou-se níveis de resistência a Z. subfasciatus.

(Barbosa et al., 2000)

Genótipos de Caupi (Vignia unguiculata) tem apresentado resistência ao caruncho (Callosobruchus maculatus) do tipo antibiose ou não preferência para oviposição.

(Lima et. al., 2001)

Resistência de diferentes genótipos de algodão (Gossypium hirsutum) a Alabama argillacea é do tipo antibiose e/ou não preferência para alimentação.

(Santos & Boiça Júnior, 2001)

O IAC vem desenvolvendo linhagens de milho com genes para resistência a insetos produção de fitoalexinas (alcalóides, resinas, ácidos orgânicos e glucosídeos).

Quando o gene resistente foi incorporado a variedades de milho suscetível este adquiriu resistência a alguns insetos mastigadores como a lagarta-do-cartucho (S. frugiperda).

(Miranda & Miranda, 1993)

Resistência de variedade de tomate (L. esculetum) a T. absoluta tem sido atribuída aos aleloquímicos 2-tridecanona e 2-undecanona, presentes nos tricomas foliares tipo VI.

[Giustolin e Vendramim (1996), Maluf et al. (1997)]

Número médio de adultos do caruncho (Z. subfasciatus) emergidos em sementes de duas cultivares e de quatro linhagens de feijão no período de 60, 75, 120 e 150 dias de armazenamento.

Adultos emergidos (N°)

Armazenamento (Dias)

Cultivar

45

60

75

120

150

Goiano precoce

11,5

12,0

25,0

57,3

58,3

Porrillo 70

6,8

16,0

10,3

42,8

42,7

Arcelina 3

1,2

4,5

18,5

45,5

72,2

Arcelina 4

1,54

7,7

13,7

6,3

28,3

Arcelina 2

0,3

0,5

0,8

1,0

5,3

Arcelina 1

0,0

0,3

0,3

0,0

0,0

Peso e viabilidade da fase pupal, razão sexual e deformação de adultos (%) de S. frugiperda provenientes de lagartas alimentadas com folhas de diferentes genótipos de milho.

Genótipo

Peso (mg)

Viabilidade (%)

Razão Sexual

% de deformação

LAC103N

239,2

91,3

0,51

10,3

Mp705

225,6

97,1

0,56

13,4

Mp496

219,4

97,2

0,44

6,2

MP706

212,0

100,0

0,35

24,6

IAC701N

211,5

94,4

0,38

9,5

ZC

210,0

93,3

0,46

11,6

IAC7777

206,9

91,4

0,50

13,5

IAC701 BPI

204,1

100,0

0,62

30,6

IAC103 BPI

196,8

93,7

0,68

10,7

ZC – Zapalote Chico

VANTAGENS NA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS RESISTENTES

Facilidade utilização – não necessita de conhecimento adicional do agricultor;

Custo – não tem custo, pois dispensa o controle;

Harmonia com o ambiente – não há riscos para insetos benéficos e contaminação do ambiente;

Persistência – tem efeito permanente;

Redução da infestação em variedades susceptíveis e em outras culturas – redução na população da praga;

Não interferência nas demais práticas culturais – não tem problemas de resíduos;

Compatibilidade – com outros métodos de controle.

LIMITAÇÕES NA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS RESISTENTES

Tempo para obtenção da variedade resistente – tempo longo, em média 7 anos;

Limitações genéticas da planta - diversidade genética – dentre as variedades e linhagens – fontes de resistência;

Ocorrência de biótipos – pode limitar o uso – uso de resistência poligênica e melhoramento;

Características de resistências conflitantes – resistência a um inseto e susceptível a outros;

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A resistência de plantas é uma técnica muito interessante no controle de insetos.

Caso de pragas muito nocivas;

Cultura de ciclo curto;

Culturas de baixa renda que não compensa o controle químico;

Não provoca alterações prejudiciais no ecossistema;

Se enquadra na filosofia do Manejo Integrado de Pragas.

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