Publicado em 26/03/2007 por Maria Alexandra Torres Artunduaga, doutoranda em zootecnia/EV-UFMG e Robson Vilela, médico veterinário, Equipe ReHAgro
Fonte: Rehagro
Link: http://www.rehagro.com.br/siterehagro/publicacao.do?cdnoticia=1434 e http://www.rehagro.com.br/siterehagro/publicacao.do?cdnoticia=1440
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A atual situação econômica da produção de leite exige que os produtores operem com máxima eficiência, para manter a rentabilidade da atividade. Assim sendo, elevado nível de produção de leite e alta eficiência reprodutiva devem ser sempre metas dos criadores para alcançarem alta produtividade e retorno econômico. Daí a otimização da eficiência reprodutiva ser um dos principais fatores que contribuem para melhorar o desempenho e lucratividade dos rebanhos.
O desempenho reprodutivo é responsável direto pela produção de leite por dia de vida útil da vaca, numero de animais de reposição, redução de custos e aumento do ganho genético.
Nas ultimas décadas, o grande aumento na capacidade de produção das vacas leiteiras vêm sendo associado à queda na fertilidade. A taxa de concepção em rebanhos comerciais de gado de leite é de 35 a 40% em vacas multíparas em comparação a 50% em vacas de primeira lactação e geralmente maior que 65% em novilhas. Essas diferenças mostram que a concepção dos animais vai caindo a cada parto até que as vacas alcancem a idade adulta (Tabela 1).

Índices zootécnicos relacionados à eficiência reprodutiva
Existem várias formas de avaliar a eficiência reprodutiva do rebanho. A mais simples analisa o DEL (dias médios em lactação das vacas) para rebanhos puros. Um rebanho com DEL maior que 150 dias significa que as lactações, em média, são maiores que 300 dias e como o período seco (PS) é de 60 dias, em média, provavelmente o intervalo entre partos (IEP) desse rebanho é maior que 365 dias. Assim, se o DEL for de 240 dias, o IEP será de 540 dias (IEP = DEL x 2 + PS), ou seja, 18 meses.
Em rebanhos mestiços, a análise mais simplista é a relação entre vacas em lactação e vacas secas. Para estimar o IEP, primeiro deve-se saber a duração do período de lactação (PL). Se por exemplo, o PL for de nove meses, e tiver 75% das vacas em lactação o IEP é de 12 meses. Se a relação de vacas em lactação/secas for 50/50, com período de lactação de nove meses, o IEP médio deve estar em torno de 18 meses.
Os índices zootécnicos mais utilizados pelos técnicos são: intervalo entre partos, período de serviço e número de serviços por concepção. Porém, estes índices apenas levam em consideração as vacas gestantes.
Outra forma de se analisar a eficiência reprodutiva é a taxa de concepção ao primeiro serviço que fornece uma melhor visão da situação do rebanho. Porém, a forma mais correta de se avaliar a eficiência reprodutiva de um rebanho é a taxa de prenhez, que considera também a eficiência de detecção de cio.
A avaliação da taxa de prenhez é importante, pois a eficiência reprodutiva em rebanhos leiteiros deve-se basear em altas taxas de detecção de estro (TDE) e de concepção (TC) após um período voluntário de espera (PVE), que pode ser definido baseado no restabelecimento do aparelho reprodutivo ou nas características de produção.
Os fatores que influenciam o período de serviço (intervalo entre o parto e a concepção) são: período voluntário de espera (PVE) para primeira inseminação; taxa de detecção de estro (TDE = número de vacas detectadas em estro dividido pelo número de vacas disponíveis para inseminação artificial (IA) em 21 dias multiplicado por 100) e a taxa de concepção (TC = número de vacas gestantes dividido pelo número de vacas inseminadas multiplicado por 100). Juntos estes índices formam a Taxa de Prenhez (TP), que é calculada pela fórmula: TP=TDE x TC, que representa a proporção de vacas que ficam gestantes dentro do período de um ciclo estral (aproximadamente 21 dias). A TP determina a “velocidade” na qual a vaca fica gestante a partir do PVE. Se a TP for igual a 25% (qualquer combinação de TDE x TC que seja igual a 25%) serão necessários três ciclos estrais, para se atingir 58% de vacas gestantes a partir do PVE (exemplo 1). Com uma TP de 35%, 73% das vacas estarão gestantes após três ciclos estrais (exemplo 2).
Exemplo 1: Rebanho de 100 vacas com taxa de prenhez de 25%.Primeiro ciclo de 21 dias = 100 x 0,25 = 25 vacas gestantes.
Segundo ciclo de 21 dias = 75 x 0,25 = 19 vacas gestantes.
Terceiro ciclo de 21 dias = 56 x 0,25 = 14 vacas gestantes.
Segundo ciclo de 21 dias = 75 x 0,25 = 19 vacas gestantes.
Terceiro ciclo de 21 dias = 56 x 0,25 = 14 vacas gestantes.
Total de vacas gestantes em 3 ciclos de 21 dias (63 dias) = 25 + 19 + 14 = 58 vacas gestantes
Porcentagem de vacas gestantes após 3 ciclos = 58/100 = 58%.
Porcentagem de vacas gestantes após 3 ciclos = 58/100 = 58%.
Melhorando a taxa de prenhez para 35%, aumenta-se a taxa de vacas gestantes depois de três ciclos estrais de 21 dias para 73% e reduz-se a porcentagem de vacas que não ficam gestantes até 305 dias em lactação.
Exemplo 2: Rebanho de 100 vacas com taxa de prenhez de 35%.Primeiro ciclo de 21 dias = 100 x 0,35 = 35 vacas gestantes.
Segundo ciclo de 21 dias = 65 x 0,35 = 23 vacas gestantes.
Terceiro ciclo de 21 dias = 42 x 0,35 = 15 vacas gestantes.
Segundo ciclo de 21 dias = 65 x 0,35 = 23 vacas gestantes.
Terceiro ciclo de 21 dias = 42 x 0,35 = 15 vacas gestantes.
Total de vacas gestantes em 3 ciclos de 21 dias (63 dias) = 35 + 23 + 15 = 73 vacas gestantes
Porcentagem de vacas gestantes após 3 ciclos = 73/100 = 73%.
Porcentagem de vacas gestantes após 3 ciclos = 73/100 = 73%.
A taxa de prenhez de 35% parece pequena, mas conseguir alcançá-la é reflexo de um excelente desempenho reprodutivo.
Vantagens de se atingir alta taxa de prenhez:
• Permite que os descartes sejam baseados em outros fatores e não em reprodução, e não força a manutenção de animais inferiores no rebanho só porque estes estão gestantes;
• Mais leite é produzido porque os animais estão no pico de lactação mais vezes durante a vida produtiva;
• Nascem mais bezerros por ano;
• Número de vacas em lactação pode ser mantido constante ao longo dos anos.
• Mais leite é produzido porque os animais estão no pico de lactação mais vezes durante a vida produtiva;
• Nascem mais bezerros por ano;
• Número de vacas em lactação pode ser mantido constante ao longo dos anos.
Os índices zootécnicos servem para mostrar que falhas na detecção do estro e/ou na taxa de concepção diminuem a taxa de prenhez, aumentando o período de serviço médio do rebanho e, conseqüentemente, diminuindo a eficiência reprodutiva e produção de leite por dia de IEP.
Equação da reprodução
Reprodução = Fertilidade da vaca (%) x Fertilidade do touro (%) x eficiência na detecção de cio (%) x Eficiência do inseminador (%).
Tabela 2 - Exemplo do efeito acumulativo dos itens da equação da reprodução na taxa de prenhez.


Possíveis causas de baixa eficiência reprodutiva nas vacas de leite
A natureza do baixo desempenho reprodutivo das vacas leiteiras parece ser multifatorial. Os fatores que potencialmente contribuem para isso incluem: genética e raça, idade e paridade, retorno a ciclicidade após o parto, nutrição, nível de produção de leite, saúde uterina, condições ambientais e praticas de manejo, entre outros. Esses fatores tem um efeito direto ou estão indiretamente associados com a fisiologia ovariana em nível de desenvolvimento e função folicular e lútea. A fisiologia ovariana alterada pode ser uma via comum para uma interrupção do desempenho reprodutivo em vacas leiteiras em lactação.
Falhas na detecção de estro
Falhas na detecção de estro
Falhas na detecção do estro reduzem o desempenho reprodutivo e indiretamente, a produção de leite por dia de intervalo entre partos (Britt, 1985). O prolongamento do intervalo parto-primeira inseminação, resultante da inadequada taxa de detecção de estro, prolonga o intervalo entre partos. Estes dois fatores estão altamente correlacionados: a redução de um dia no intervalo parto-primeira IA, reduz o intervalo entre partos em 0,86 dias (Youngquist et al., 1985).
O tempo gasto por dia e o horário da observação são muito importantes na eficiência da detecção de estro. Com o aumento do numero de vezes por dia gastos na observação do estro, aumenta-se a eficiência da detecção. O período da manha é o horário em que se observa maior numero de vacas em estro. Assim o momento da observação também é importante.
Um esquema pratico para a observação de estro seria:
- Pelo menos três observações diárias (20 minutos cada)
- Evitar outras atividades. Só observar
- Procurar por sinais secundários de estro (figura 1)
- Anotar as informações
- Procurar observar cio onde as vacas têm facilidade de andar.
- Evitar outras atividades. Só observar
- Procurar por sinais secundários de estro (figura 1)
- Anotar as informações
- Procurar observar cio onde as vacas têm facilidade de andar.

Figura1. Esquema pratico para observação de estro.
As manifestações de estro são menores devido à doenças, problemas nas pernas e pés ou à outros fatores estressantes. Fatores ambientais como o estresse térmico, podem influenciar o numero de montas, assim como a duração e intensidade do estro. Vacas alojadas em piso de concreto também apresentam menor manifestação de estro do que vacas mantidas à pasto.
São muitos os fatores que influenciam a rotina da observação de estro, o que a torna muitas vezes falha, levando à baixa taxa de detecção de estro, menor taxa de prenhez e maior intervalo entre partos.
Lopez et al (2003) observaram que a produção de leite influencia a duração do estro sendo que, em vacas de alta produção (46,4 ± 0,4 kg/dia) a duração do estro foi menor (6,2 ± 0,5 vs 10,9 ± 0,7 horas) do que em vacas de menor produção (33,5 ± 0,3 kg/dia). Isto ocorreu, provavelmente, devido a menor concentração de estradiol circulante observada nas vacas de maior produção.
Existem varias ferramentas que auxiliam a detecção de estro. Entre elas: rufião, rufião com buçal marcador, Kamar (dispositivo colocado na base da cauda da vaca, que se rompe ao ser pressionado durante a monta, liberando tinta) e marcação da inserção da cauda com cera ou tinta. Novas tecnologias eletrônicas estão tornando a detecção de estro mais eficiente, entre elas, o pedômetro e o Heatwatch.
Condições anovulatórias
Existem três atividades fisiológicas principais que podem ser identificadas por ultra-som durante o crescimento folicular: a emergência da onda folicular (~ 4 mm de diâmetro), a seleção do folículo dominante (~9 mm de diâmetro) e a ovulação (varia de 10 a 20 mm de diâmetro de acordo com os estados fisiológicos) (Figura 2). Os itens a seguir utilizam essas três atividades fisiológicas para classificar os tipos de condição anovulatoria. Cada tipo se caracteriza por padrões diferentes de crescimento folicular, fisiologia e possíveis tratamentos (Wiltbank et al., 2002). Deve-se lembrar que um único exame de ultra-som ou palpação pode não dar informações exatas para classificar corretamente uma vaca em uma determinada categoria.

Figura 2. Modelo da relação entre a atividade hormonal e o crescimento folicular desde a emergência até a ovulação.
a. Condição anovulatoria com crescimento folicular somente até a emergência
Embora os "ovários estáticos" sejam comumente abordados na comunidade veterinária, a literatura cientifica sobre esse tema é escassa. Deve-se lembrar que os ovários com crescimento dos folículos até o momento da divergência também se caracterizam por serem pequenos. Através da palpação retal é provável que seja difícil diferenciar os ovários com folículos que crescem até a divergência (diâmetro menor que 8 mm) daqueles que crescem apenas até o tamanho da emergência (~4 mm de diâmetro). Wiltbank et al (2002) observaram poucas vacas ou novilhas (n = 3 em mais de 1000 vacas examinadas) com folículos que cresciam somente ate a emergência.
Ruiz-Cortes e Olivera-Angel (1999) descreveram a dinâmica folicular em vacas zebu com bezerro ao pé criadas em pastagens de baixa qualidade. Estes autores observaram que há épocas em que as vacas apresentam períodos de anestro com crescimento de apenas folículos muito pequenos (~4 a 6 mm de diâmetro). Possivelmente o crescimento de folículos da emergência à divergência se deve ao FSH na corrente sanguínea. Assim Wiltbank et al (2002) postularam que nesse estudo pode ter ocorrido uma deficiência de FSH. Os mesmos autores ressaltaram que nas poucas vacas em que foi observado esse estado, os tratamentos com GnRH não apresentaram nenhum resultado, mas o tratamento com FSH é capaz de aumentar o crescimento folicular. São necessários mais estudos para se chegar a conclusões sobre as possíveis causas ou tratamentos desse tipo de condição anovulatoria.
b. Condição anovulatoria com crescimento folicular ate a divergência, mas sem ovulação.
b. Condição anovulatoria com crescimento folicular ate a divergência, mas sem ovulação.
Esta condição é muito comum. Este estado é observado em todos os animais durante o período pré-puberdade e no período pós-parto em vacas leiteiras e vacas de corte com bezerro ao pé. Os sinais característicos deste estado são ovários pequenos devido a ausência de corpo lúteo ou folículos com tamanho ovulatorio. Contudo, avaliações diárias com ultra-som demonstraram que o crescimento folicular continua em um padrão dinâmico de onda.
O crescimento folicular no período pré-puberdade possivelmente se caracteriza por aumentos do FSH, pelo aparecimento e crescimento de uma onda folicular, e pela seleção de um folículo dominante de aproximadamente 8,5 mm de diâmetro. O crescimento e a produção de estradiol por parte do folículo dominante após a seleção aparentemente não aumentam com a aproximação do período da puberdade e da primeira ovulação.
As ondas foliculares ocorrem durante todo o período de prenhez até, em media, 21,6 dias antes do parto (Ginther et al., 1989). Após a parição, ocorre um pico de FSH provavelmente devido à redução do estradiol na corrente sanguínea associada à parição. Da mesma forma ocorre uma nova onda folicular em média 4 dias após o parto variando entre 2 a 7 dias (Wiltbank et al., 2002). Portanto, os picos de FSH de crescimento folicular começam logo após o parto.
Foi observado que o primeiro folículo dominante ovula em cerca de 75% das vacas leiteiras bem nutridas (Sávio et al., 1990). Em vacas holandesas, a média de dias até a primeira ovulação pós-parto é de 33,3±2,1 dias. Em bovinos de leite criados à pasto este numero é maior, com uma média de 4,2 ondas de crescimento folicular antes da primeira ovulação. Em animais de corte e com bezerro ao pé, foi observado que apenas 10% ovulavam na primeira onda folicular e muitos apresentavam varias ondas foliculares antes da primeira ovulação (Borges, 2000). Subnutrição, amamentação ou doença podem prolongar o período de tempo até a primeira ovulação e em geral reduzem o tamanho máximo do folículo maior (Henao et al., 2000).
A fisiologia no caso de condição anovulatoria com crescimento folicular até a divergência, mas sem ovulação, pode ser semelhante em novilhas na fase pré-puberdade, animais desnutridos e vacas no período pós-parto.
Assim, em bovinos de leite há um período de balanço energético negativo nas primeiras semanas após o parto e aumento do consumo alimentar para atender as exigências de energia da lactação. O consumo de matéria seca aumenta e as vacas atingem o balanço energético positivo até cerca de 8 semanas após o parto (variando de 4 a 14 semanas). O período até a primeira ovulação em bovinos de leite varia entre as vacas, estando relacionado com o momento certo do ponto mínimo no balanço energético negativo. O retorno ao balanço energético mais neutro ou positivo possibilita o aumento da secreção do LH pulsátil, do tamanho máximo do folículo dominante e da produção folicular de estradiol. È provável que o balanço energético negativo possa desencadear um estado semelhante ao observado na puberdade, em que o estradiol inibe a secreção de GnRH no hipotálamo. Assim o folículo dominante após a seleção aumenta a quantidade de estradiol no sangue que, por sua vez, inibiria o GnRH no hipotálamo e conseqüentemente os pulsos de LH estariam diminuídos também. A diminuição nos pulsos de LH impossibilitaria a continuação do crescimento folicular até o tamanho pré-ovulatório ou a produção de estradiol na pré-ovulação. Conseqüentemente, a ovulação seria impedida porque não haveria pico de estradiol nem o correspondente pico de GnRH/LH (Figura 3).

Figura 3. Modelo fisiológico que explica a ausência de ovulação em condições de amamentação, pós-parto ou falha nutricional.
Como descrito acima, o problema fisiológico é o efeito inibitório do estradiol nos pulsos do GnRH/LH, que impede o crescimento final ou a produção de estradiol por parte do folículo dominante após a divergência. É possível resolver esse problema através da redução do feedback negativo do estradiol e do aumento da freqüência dos pulsos de GnRH/LH, para permitir que os folículos atinjam o tamanho e a função pré-ovulatórios finais.
Em novilhas na pré-puberdade isto pode ser feito, aumentando-se o consumo de energia. Isto aumenta os pulsos do LH e reduz o período até a primeira ovulação em novilhas. Em bovinos de leite, esse anestro pós-parto pode ser solucionado espontaneamente a medida que as vacas entram em equilíbrio energético mais positivo. Quando se melhora o consumo de energia através do fornecimento de uma boa alimentação no período de transição, três semanas pré-parto e três semanas pós-parto, pode-se reduzir o período de anestro o qual ocorre devido à ausência dos pulsos de LH. Em vacas de corte a melhora do aspecto energético e a redução do estimulo da amamentação são capazes de aumentar os pulsos de LH e diminuir o período até a primeira ovulação.
Os tratamentos hormonais também podem ajudar a estimular as vacas em anestro a ciclarem.
Pursley et al (1995), trataram vacas lactantes e em anestro (n=182) com o protocolo Ovsynch comum ou receberam um dispositivo intravaginal de liberação lenta (CIDR) entre o tratamento com GnRH e PGF2a do protocolo Ovsynch. As vacas que receberam Ovsynch + CIDR apresentaram taxas de prenhez mais altas (55,2%) do que as que receberam o Ovsynch sem o CIDR (34,7%) no dia 28 após a IA.
Assim é possível alcançar boas taxas de prenhez nas vacas, associando-se a progesterona a um programa de sincronização folicular e da ovulação. Vacas leiteiras lactantes em anestro podem ser eficazmente tratadas com um protocolo Ovsynch, pois muitas vacas em condição anovulatoria possuem folículos de tamanho suficiente e capacidade de ovulação, mas, por algum motivo, não apresentam um pico de LH.
c. Condição anovulatoria com crescimento folicular até tamanho da ovulação ou superior.
Em muitos casos de condição anovulatoria em bovinos, observa-se que os folículos crescem até tamanhos superiores ao da ovulação. Por exemplo, os cistos foliculares foram identificados e caracterizados por veterinários e cientistas durante todo o século passado. A incidência de tais cistos foi estabelecida entre 6 e 19% em vacas leiteiras lactantes, mas é muito rara em novilhas e gado de corte. Os primeiros estudos definiram os cistos foliculares como estruturas ovarianas com mais de 25 mm de diâmetro que persistem nos ovários durante pelo menos 10 dias na ausência de um corpo lúteo, e são classificados como foliculares ou lúteos de acordo com o grau de luteinização e secreção de progesterona. Mais tarde foi acrescentado que uma das características importantes dos cistos foliculares é a baixa concentração de progesterona no sangue. Wiltbank et al (2002), observaram inúmeras vacas leiteiras lactantes com folículos maiores do que o tamanho ovulatorio, mas não atingem um diâmetro suficiente para chegar à condição de cisto folicular. Há vários comportamentos sexuais associados aos cistos foliculares ou condição anovulatoria com folículos grandes, desde ausência de estro por longos períodos ou, inversamente, estro comportamental extremamente freqüente (ninfomania) e até mesmo um fenótipo extremamente masculino.
A palpação retal freqüente ou observação com ultra-som dos ovários das vacas com cistos foliculares mostrou que as estruturas ovarianas císticas não são estáticas. Podem ser observadas novas ondas foliculares na presença de folículos ovarianos grandes. Cada uma dessas ondas parece ser precedida por ondas foliculares como em outros estados fisiológicos. As concentrações de FSH no sangue aparentemente continuam baixas após a seleção do folículo, visto que o cisto folicular permanece dominante.
Uma observação fisiológica constante nesta patologia tem sido a maior concentração de LH no sangue em vacas em condição anovulatoria em comparação a vacas com ovulação. Isso poderia ser causado pela estimulação por pulsos de LH ou simplesmente devido à ausência do feedback negativo da progesterona nos pulsos de GnRH/LH nas vacas em condição anovulatoria com folículos grandes. Recentemente Hampton et al (2001) observaram que o aumento dos pulsos de LH em vacas leiteiras com ciclo normal ou no período pós-parto não provocou o desenvolvimento de cistos foliculares. Portanto, altas quantidades de pulsos de LH podem ser importantes para a continuação do crescimento excessivo de folículos grandes, mas é improvável que seja a principal base etiológica no caso dos cistos.
A maioria dos indícios revela que a ausência de um pico de LH é uma alteração fisiológica subjacente essencial que provoca a condição anovulatoria com folículo grande ou cistos foliculares. Também foi observado que vacas com cistos foliculares possuem alto nível de estradiol endógeno, mas ainda assim não apresentam pico de LH, o que sugere um eixo hipotalâmico-hipofisário com menor sensibilidade. Portanto, a condição anovulatoria com folículo grande parece resultar de uma ausência de pico de LH em resposta a altas concentrações de estradiol no sangue (Figura 4).

Figura 4. Modelo fisiológico que explica a formação de cisto folicular e de condição anovulatoria com folículo grande.
Há várias vias neuronais e hormonais que produzem um hipotálamo incapaz de responder com um pico de GnRH após um pico de estradiol. Segundo Wiltbank et al (2002), a indução de um pico de GnRH/LH, quando não há um folículo com capacidade ovulatoria no ovário (folículo funcional > 10 mm), causava um pico de GnRH/LH na ausência de progesterona no sangue mais tarde. O hipotálamo parece tornar-se sensível ao feedback positivo do estradiol até que seja posteriormente exposto à progesterona para restabelecer sua sensibilidade ao estradiol. Portanto, a condição anovulatoria com folículo grande pode ser uma anormalidade do hipotálamo e não do ovário.
A recuperação espontânea tem sido relatada tanto em cistos ovarianos induzidos experimentalmente como nos de ocorrência natural (Cook et al., 1990). A recuperação espontânea parece ser mais elevada em vacas no início do período pós-parto do que em vacas no final da lactação. Apesar da recuperação espontânea, os cistos ovarianos não tratados no momento do diagnostico podem prolongar o intervalo parto – concepção em 64 dias e causar perdas econômicas de US$ 55 a US$ 160 por lactação (Barlett et al., 1986).
Originalmente, o tratamento de cistos ovarianos consistia na administração de compostos exógenos com alta atividade de hormônio luteinizante. Da mesma forma, compostos que induzem a liberação de LH estimulam a luteinização dos cistos e a ovulação de folículos maduros, solucionando a condição cística. Não é recomendado realizar a ruptura manual dos cistos por que há risco de hemorragia e formação de aderências do mesovário, que podem comprometer a fertilidade. A gonadotropina corionica humana (hCG) e análogos e agonistas de GnRH têm sido usados no tratamento de cistos ovarianos. O GnRH é o preferido por ser uma molécula pequena, estável, e não gerar nenhum efeito colateral ou resposta imune.
Uma dose de GnRH induz liberação de LH depois de 30 minutos com um pico nas concentrações de LH depois de duas horas, o que causa luteinização dos cistos ou ovulação do folículo maduro. A elevação da progesterona gera um feedback negativo sobre o eixo hipotalâmico-hipofisário para inibir a pulsatilidade de LH e contribui para a atresia folicular. Além disso, a elevação de FSH induzida pelo GnRH provoca um recrutamento de uma onda folicular que pode restaurar a ciclicidade normal. A administração de PGF2a 9 dias depois do tratamento com GnRH induziu a expressão de estro em 2 a 3 dias. Esta abordagem terapêutica exige uma alta taxa de detecção de estro e, alternativamente, a inseminação em tempo fixo pode ser usada para aumentar a taxa de prenhez em vacas com cistos ovarianos.
d. Condição anovulatoria com presença de tecido luteal.
É evidente que uma das causas mais comuns da condição anovulatoria é a presença do tecido luteal. Por exemplo, o crescimento folicular continua, mas os folículos não ovulam durante a prenhez em bovinos. Isso não é considerado um problema para a eficiência reprodutiva, a menos que as vacas possuam um corpo lúteo persistente na ausência de prenhez. O corpo lúteo que não regride se caracteriza por apresentar concentrações de progesterona altas (acima de 1,5 ng/ml). Parece provável que falhas na involução uterina, presença de infecção uterina ou outra anormalidade uterinas possam reduzir a secreção de PGF2a ou seu transporte para o ovário, viabilizando um corpo lúteo prolongado. É provável que o tratamento com PGF2a seja o método mais eficaz para resolver esse estado.
Os cistos luteais (folículos com parede espessa e progesterona média alta, > 1ng/ml) também podem causar tecido luteal persistente. A PGF2a é o tratamento mais usado
para a regressão de cistos luteais.
para a regressão de cistos luteais.
Repeat Breeder
O termo Repeat Breeder é utilizado para definir uma infertilidade em vacas e novilhas que, embora apresentem ciclos estrais e cios normais, esses animais apresentam falha em conceber, por três ou mais coberturas. Esta condição parece ser o atraso de uma onda folicular antes da atividade posterior ou o resultado do desenvolvimento de condição anovulatoria persistente com crescimento de folículos maiores ou talvez menores.
Possíveis causas:
1. Inseminação em momento errado - muito cedo ou muito tarde;
2. Inseminação baseada em sinais secundários de cio (presença de muco, vulva edemaciada);
3. Alta incidência de infecção uterina;
4. Uso de técnica de inseminação incorreta;
5. Uso de sêmen com problema de estocagem ou descongelamento;
6. Alta incidência de perda embrionária e fetal:
a. Perda excessiva de peso;
b. Técnica de diagnóstico de gestação imprópria;
c. Estresse térmico;
d. Desbalanço da dieta (excesso de proteína);
e. Vacas muito gordas;
7. Doenças infecciosas;
8. Intoxicação alimentar;
9. Desbalanço de cálcio, fósforo e vitaminas (A, D, E e caroteno);
10. Anemia;
11. Desbalanço hormonal (ingestão de forragem com alto ter de substâncias estrogênicas);
12. Uso de touros com baixa fertilidade;
13. Uso impróprio de hormônios que podem afetar a reprodução.
2. Inseminação baseada em sinais secundários de cio (presença de muco, vulva edemaciada);
3. Alta incidência de infecção uterina;
4. Uso de técnica de inseminação incorreta;
5. Uso de sêmen com problema de estocagem ou descongelamento;
6. Alta incidência de perda embrionária e fetal:
a. Perda excessiva de peso;
b. Técnica de diagnóstico de gestação imprópria;
c. Estresse térmico;
d. Desbalanço da dieta (excesso de proteína);
e. Vacas muito gordas;
7. Doenças infecciosas;
8. Intoxicação alimentar;
9. Desbalanço de cálcio, fósforo e vitaminas (A, D, E e caroteno);
10. Anemia;
11. Desbalanço hormonal (ingestão de forragem com alto ter de substâncias estrogênicas);
12. Uso de touros com baixa fertilidade;
13. Uso impróprio de hormônios que podem afetar a reprodução.
Algumas sugestões que podem ser dadas para tentar melhorar a condição de repeat breeder são:
1. Avaliar o programa de detecção de cio e o momento das inseminações;
2. Treinamento e reciclagem dos inseminadores;
3. Diagnosticar as doenças infecciosas;
4. Examinar as vacas Repeat Breeder e tratar as que apresentarem problemas clínicos;
5. Avaliar a dieta e seus componentes;
6. Pedir para as empresas de sêmen as avaliações do mesmo;
7. Avaliar o uso de medicamentos ligados ao manejo reprodutivo;
8. Avaliar o programa de vacinação.
2. Treinamento e reciclagem dos inseminadores;
3. Diagnosticar as doenças infecciosas;
4. Examinar as vacas Repeat Breeder e tratar as que apresentarem problemas clínicos;
5. Avaliar a dieta e seus componentes;
6. Pedir para as empresas de sêmen as avaliações do mesmo;
7. Avaliar o uso de medicamentos ligados ao manejo reprodutivo;
8. Avaliar o programa de vacinação.
Os tratamentos provavelmente se assemelham aos das condições anovulatorias descritas nos itens B e C acima. Alguns estudos verificaram que o tratamento de vacas leiteiras Repeat Breeder com GnRH no momento da inseminação aumentou as taxas de prenhez. Alguns desses efeitos podem ser simplesmente devido à estimulação de um pico de LH, o qual levaria a posterior ovulação.
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